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Obesidade Infantil


Obesidade Infantil

Como todos sabem, sou pediatra clínico e neonatologista, com mais de vinte e cinco anos de atuação. Trabalho em consultório particular, hospital particular (Albert Einstein e SÍrio Libanes), hospital público (Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da USP) e creches municipais como médico voluntário, além de ter trabalhado por muitos anos em postos de saúde.

Muitos mitos (verdadeiros e falsos) estão presentes na abordagem da obesidade infantil (que como todos sabemos é multi fatorial), procurarei neste espaço a esclarecer os mais frequentes

-Médicos são seres humanos normais como todos os outros. Alguns tem hábitos alimentares,de lazer e de atividade física adequados as necessidades de uma vida como a nossa e outros não, com consequências óbvias na educação de seus filhos (e pacientes também !!)

-Um melhor nível cultural, sócio-econômico e educacional não garante necessariamente hábitos alimentares mais saudáveis. Vou além, acho que o Brasil vive agora uma “ grande epidemia de obesidade” decorrente da inclusão de milhões de pessoas na classe média (fato bom) com hábitos alimentares e físicos ruins (dieta hiper calórica e gordurosa aliada a falta de atividade físíca e esportiva regular). A solução deste dilema passa pela escola de período integral para todas as crianças, com almoço e jantar sob supervisão de nutricionista habilitada, além de no mínimo duas atividades de esportes coletivos por criança (handebol, voleibol, natação e futebol).

-A Obsesidade é considerada hoje um estado pró-inflamatório, já que provoca um aumento na liberação de citocinas inflamatórias que atuam na diminuição da produção de adiponectina (importante hormônio cuja função é atuar como fator adjuvante positivo na atuação da insulina) , resultando portanto numa diminuição da sensibilidade a insulina. Lembrando também que o tecido adiposo fabrica o hormônio resistina (que também aumenta a resistência a insulina)

Assista:  A entrevista no Programa Revista da Cidade sobre Obesidade Infantil com Marcelo Silber

-Resistência a Insulina aumentada é um termo que descreve a capacidade diminuída dos tecidos-alvo principais (fígado, músculo e tecido adiposo) a responder a ação celular da insulina. Com isso a glicose passa a ter dificuldade de penetrar nestas células, gerando um aumento na produção pancreática de insulina (HIPERINSULINISMO). Quando as células beta-pancreáticas atingem seu limite secretor máximo (e entram em falência) a pessoa torna-se portadora de diabete mélito tipo II. Ressalto que mesmo antes do diagnóstico clínico as lesões microvasculares já estão ocorrendo com comprometimento da retinas, rins, nervos entre outros órgãos…

-A inatividade física ou o sedentarismo por sua vez, diminui os níveis de GLUTT 4 que vem a ser o principal transportador de glicose, diminuindo mais a sua entrada nas células e obrigando o pâncreas a secretar ainda mais insulina, agravando portanto o HIPERINSULINISMO e o risco do Diabete mélito tipo II. Calma, o que não esta bom, sempre pode ficar um pouquinho pior… Se não vejamos:

-O aumento da resistência insulínica no tecido adiposo leva a um aumento no número de ácidos graxos livres. Esses por sua vez aumentam no fígado a produção de triglicérides e LDL (o colesterol ruim), e ao mesmo tempo diminuem a produção do HDL (o colesterol bom). Esse fenômeno negativo se chama DISLIPIDEMIA. Perde-se portanto o efeito anti-oxidante na parede das artérias, favorecendo assim a formação das placas de aterosclerose, aumentando significativamente o risco de doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais

-Finalmente destaco a elevada incidência de Hipertensão arterial nos obesos, explicada por vários mecanismos, tais como o estado pró- inflamatório e pró-trombótico (já mencionado), alteração vascular estrutural (encontradas já nas crianças obesas) e que o hiperinsulinismo provoca retenção de sal, levando o obeso há uma sobrecarga renal crônica com hipertensão arterial subsequente…

Como pediatra, destaco que adquirir hábitos alimentares, de lazer e de atividade física saudáveis na infância é a única solução de médio-longo prazo eficaz no controle da obesidade e de seus malefícios e que somente o envolvimento de médicos, educadores, da mídia, em suma de toda a sociedade, ajudarão as famílias a mudar hábitos tão arraigados e a lutar contra interesses tão poderosos que todos sabemos quais são…